Tallis Gomes

Fundador e mentor do G4 Educação. Fundador da Easy Taxi e Singu.

Como construir times de alta performance

Você está construindo equipes de elite ou apenas contratando gente? Um time mal treinado pode drenar o futuro da sua empresa.

Tallis Gomes

Ao  longo de duas décadas, construindo e liderando equipes de alto desempenho, vi grupos se formando, sucedendo e falhando em diversas áreas. 

E, não se engane, o dono da empresa é sempre o responsável pela qualidade da equipe que está sendo formada. É por isso que eu digo que construir negócios bilionários não é uma questão de acaso. 

Dados levantados pela McKinsey mostram que o fator não financeiro mais importante no valuation de uma companhia para a realização de um IPO são as pessoas. Nove em cada dez investidores experientes valorizam a qualidade da equipe e a interação entre os seus membros mais do que a própria ideia, já que isso indica uma probabilidade 1,9x maior de se ter um desempenho financeiro acima da média.

Como seres humanos, encontramos mil maneiras de racionalizar por que não devemos fazer algo difícil, mas a verdade é que os melhores soldados do mundo não se forjam da noite para o dia. Então, pare de achar que basta contratar pessoas talentosas e deixá-las trabalhando sozinhas. Seu papel como gestor, líder ou founder vai muito além.

Se você quer ser o melhor, não existe bala de prata. Time nota 6 faz empresa nota 6 e ponto final. Por isso, é necessário investir em profissionais triple-A e criar um ambiente onde os seus colaboradores possam crescer e se desenvolver ao máximo.

Nesse ponto, a gestão libertária - modelo de cultura e gestão que aplicamos no G4 Educação e que venho implementando em todos os meus negócios - tem tudo a ver com a excelência, uma vez que valoriza a autonomia dos colaboradores e o desenvolvimento de um contexto favorável para o surgimento natural e genuíno de novos líderes.

Mas, primeiro, esqueça a ideia de que o seu time é uma família. Trate-o muito mais como uma equipe de alto rendimento prestes a disputar o ouro nas Olimpíadas. Nas competições, não há espaço para acomodações, sentimentalismos ou complacência. Cada membro precisa estar focado, determinado e comprometido com a vitória. Não tenha medo de cobrar resultados e fazer com que todos estejam alinhados com as guidelines estratégicas da companhia. Empresa não é ONG. 

Isso significa estabelecer metas desafiadoras, cobrar resultados e não ter medo de promover ao mercado de trabalho quem não se adequar ao combinado. Sim, pode doer demitir alguém talentoso, mas é melhor perder um jogador do que perder todo o campeonato.

É por isso que Elon Musk, desde que assumiu o Twitter (agora X), demitiu cerca de 80% da força de trabalho da companhia. A ineficiência da gestão anterior e a disseminação de uma cultura woke - cheia de direitos, mas nenhum dever - geraram um fluxo de caixa negativo que, por pouco, não arruinaram todo o negócio. 

Sim, seu papel como gestor também é ser chato e carregar o peso das decisões difíceis. Não adianta querer resultados acima da média, fazendo o que a média das pessoas fazem. 

Segundo, comunicação. De acordo com a pesquisa State of Business Communication conduzida pela Harris Poll no ano passado, mais de 80% da alta performance em uma empresa está relacionada à comunicação. Tanto para líderes quanto para colaboradores,  a sua capacidade de realizar o trabalho bem-feito está diretamente relacionada a quão bem as suas necessidades e ideias são compartilhadas.

Trata-se de um imperativo comercial à nível global. Nos EUA, por exemplo, a má comunicação custa às companhias US$1,2 trilhões por ano ou US$12.506 por funcionário. E grande parte dos gaps existentes na capacidade de ouvir e compreender estão relacionados ao dimensionamento errado de equipes, já que a eficiência dos times diminui à medida que eles aumentam.

Terceiro, pense: Serena Williams, Robert Scheidt, Kelly Slater... O que todos eles têm em comum? O que fazem de diferente todos os grupos de alta performance do mundo, seja nos negócios, esporte ou no campo militar? Quais são os princípios por trás da construção e manutenção de equipes que não apenas alcançam excelentes resultados, mas também são sustentáveis e resilientes a longo prazo?

#1 - Elas obtêm resultados

A primeira característica de uma equipe fora da curva é que ela obtém resultados tangíveis independentemente dos obstáculos que estão no caminho: macroeconomia, conflitos geopolíticos, luta de interesses... Eles encaram os desafios de frente e buscam novas maneiras de fazer funcionar e dar certo. 

Esse empenho não é fruto do acaso ou de uma inclinação altruísta. Justamente como acontece no sistema de livre-troca definido por Adam Smith, business criados à prova de crises são formados pelo próprio interesse e obsessão dessas pessoas em se dar bem: 

“Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio interesse".

Portanto, promover o próprio interesse não apenas beneficia cada membro, mas fortalece a organização, sendo o seu papel descobrir como alinhar da melhor forma esses objetivos particulares com os da companhia.

#2: Elas não dão desculpas nem evitam o desconforto

A segunda característica de uma equipe de alto desempenho é que ela realmente se destaca no mercado. Fica muito claro para todos ao redor, principalmente stakeholders, que há algo diferente nessa cultura. 

As pessoas arregaçam as mangas e não evitam situações de conflito. Pelo contrário, estão sempre abraçando o desconforto para testar os seus próprios valores e virtudes e sabem que é nele onde, justamente, encontrarão as reais oportunidades de crescimento e prosperidade. 

Em 2015, ao palestrar na Universidade de Columbia, tive a oportunidade de jantar com Carlos Brito (ex-CEO da ABI e um dos maiores gestores que eu já conheci na vida) e recebi uma lição valiosa que resume bem o assunto: não aceite muletas.

É por não entenderem bem esse conceito, que muitos negócios estarão no mesmo lugar amanhã e no dia seguinte e no próximo… 

#3: Elas questionam o status quo

Apesar de óbvio, desafiar o estado natural das coisas é algo que poucos times fazem na prática. Um levantamento da Harvard Business Review mostrou que menos de 10% dos entrevistados admitiram trabalhar em empresas que os incentivam a pensar fora da caixa e a desafiar o status quo.

Além de inibir a inovação, esse comportamento dá o framework exato para arrastar o seu negócio ao fracasso, alimentar o tédio e a estagnação, diminuir o envolvimento, e restringir a capacidade de escala e de se esticarem ainda mais. 

Polaroid, BlackBerry e Myspace são apenas algumas das muitas empresas que já tiveram fórmulas vencedoras, mas sucumbiram ao conforto da tradição, impedindo-as de  atualizarem as suas estratégias até que fosse tarde demais. 

#4 - Não são permitidos egos

Equipes de alta performance colocam o bem coletivo acima do ego individual. Um exemplo clássico é do “Dream Team” de 1992, considerada a melhor seleção de basquete de todos os tempos.

O time do treinador Chuck Daly nomeou Michael Jordan para ser o capitão da equipe, mas a estrela do time questionou a decisão e apontou que os outros colegas Larry Bird e Magic Johnson mereciam mais do que ele próprio.

Isso imediatamente enviou uma mensagem para o time de que, embora eles tivessem os maiores jogadores do mundo, todos deveriam deixar o ego na porta; eles tinham que se preocupar apenas em desempenhar bem o seu papel, sem se importar com quantos pontos marcariam ou quem receberia o nome no jornal. O resto é lenda.

Mas o fato é que, times com essa mentalidade, tornam-se viciados em sucesso e farão de tudo para fugir do fracasso e alcançar o topo.

#5: Elas se desafiam a ser melhores

Elas buscam constantemente superar seus próprios limites e elevar o nível de excelência. Back to the basics, trabalham mais do que a maioria. Cercam-se de pessoas que estão onde querem chegar e também rejeitam a mediocridade. Não se sentam no escritório, reclamando e resmungando sobre o que as outras pessoas não estão fazendo. 

Avançam no seu próprio ritmo, leem e estudam mais do que a média e não se contentam em ficar estagnados ou se manter no mesmo patamar. Em vez disso, buscam maneiras de evoluir e melhorar arrastando juntos todos ao seu redor.

Peyton Manning, um dos principais quarterbacks da história do futebol americano, dizia que: “O jogador mais valioso é aquele que torna os outros jogadores mais valiosos”. 

Mas montar equipes de alto desempenho requer investimento. Não apenas financeiro, mas também de tempo e dedicação. Vamos encarar os fatos, o sucesso de um líder é, basicamente, o sucesso de seu time. E são os treinos, as reuniões 1:1 e programas de desenvolvimento que vão unificar e alinhar sua equipe para a alta performance ao longo do tempo.

Se você acha que isso é caro, eu te pergunto: quanto te custará não treinar a sua equipe e eles permanecerem na sua empresa?

Não adianta olhar para trás sem sentir o pulso do que está acontecendo diariamente na operação. Essa é uma arte imprecisa e, portanto, você precisa estar constantemente se questionando se realmente tem as pessoas certas, nos lugares certos - como recomenda Jim Collins, no livro “Good to Great”.

A curva de aprendizado é muito íngreme - e os picos e vales não precisam ser navegados como uma missão solo. Se você decidir que está pronto para elevar o desempenho do seu time, não faça isso sozinho. Aprenda com aqueles que já trilharam o caminho da excelência e deixaram um legado de virtude. Fuja dos cursos teóricos de "bullshiteiros" da internet e busque conhecimento prático e real. Esqueça os papos moles. Lembre-se sempre de que as melhores lições vêm de quem já construiu negócios de verdade e tem as cicatrizes para provar. Programas como o G4 Gestão e Estratégia te ajudarão a se cercar dos melhores generais para entrar no front de batalha e crescer de forma sustentável.

Trabalhe a construção de uma equipe de alto desempenho como se a sobrevivência do seu negócio dependesse disso, porque no fim, ela realmente depende.