Durante o governo de Joseph Stalin, a União Soviética iniciou um novo plano social: para não ser subjugada pelas potências ocidentais, a URSS queria se tornar um polo industrial autônomo.
Em 1928, Stalin direcionou a política de produção russa quase que inteiramente para a metalurgia, através do Plano Quinquenal. A intenção era fazer com que a Rússia deixasse de ser um país agrícola e se tornasse uma nação industrializada.
Para manter as políticas soviéticas, o governo necessitava recorrer à importação de alimentos e à venda de grãos a outros países. O território russo não conseguia produzir os alimentos necessários para todos os soldados e cidadãos.
Desde o início da URSS era frequente a falta de itens básicos no país.
Motivado pela escassez de produtos básicos na Rússia e a necessidade de arrecadar fundos para investir na industrialização do país, Stalin realizou uma das políticas mais rigorosas da URSS.
A Ucrânia da década de 30 possuía uma grande produção de trigo, a base para o alimento mais básico da humanidade, o pão. A Ucrânia pertencia à URSS.
Stalin decidiu retirar os alimentos produzidos na Ucrânia e levá-los para a Rússia para vender para outros países e usar para a alimentação dos russos.
O ditador soviético mobilizou grande parte de suas tropas para recolherem as colheitas ucranianas, pertencentes ao território da URSS.
A ordem soviética instigou os ucranianos a fugirem do país. Se ficassem, não teriam o que comer.
Stalin percebeu a movimentação dos ucranianos e ordenou que o exército vermelho fechasse as fronteiras da Ucrânia, gerando grande conflito. Sem ter para onde ir e com toda a produção exportada à força, o povo ucraniano entrou na maior crise de toda sua história.
Esse episódio histórico ficou conhecido como Holodomor, "fome mortal", em ucraniano.
Se os ucranianos tentassem fugir, seriam considerados inimigos do povo, condenados a pena de fuzilamento.
Os historiadores entrevistados no Épico História do Comunismo concordam que Stalin e Lenin eram inimigos do campesinato. Para eles, essa suposta classe representava os donos dos meios de produção condenados por Karl Marx:
"Essas sanguessugas sugaram o sangue dos trabalhadores e tornaram-se mais ricos com os trabalhadores passando fome nas cidades e fábricas. Esses vampiros têm reunindo as propriedades fundiárias em suas malas: eles continuam a escravizar os camponeses pobres.
Guerra implacável contra os kulaks! Marte a eles!", disse Lenin em uma citação retirada do Épico História do Comunismo.
No entanto, os historiadores divergem nas intenções por trás do Holodomor. Para Ronald Suny, professor da Universidade de Michigan e autor consagrado de obras sobre a URSS, Stalin não deseja a morte do povo da atual Ucrânia:
"Eu não acredito [que o Holodomor foi um genocídio deliberado contra os ucrânianos]. Eu acho que foi uma política desesperada, desgovernada. Stalin não tinha o interesse em fazer os camponeses morrerem.
Ele queria que os camponeses produzissem grãos para ele. Mas esse plano foi executado de forma brutal, causando mortes massivas".
Em contrapartida, o premiado historiador Simon Montefiore afirmou a Brasil Paralelo:
"Foi uma política deliberada. Quando os ucranianos resistiram a Stalin, ele não se importou em deixá-los passar fome. Ele pode até ter visto a fome como uma forma de enfraquecer a nação".
Um dos registos históricos da época, citado no III episódio de História do Comunismo, mostra que Stalin disse:
"Hoje nós temos uma base material adequada para atacarmos os Kulaks, para quebrar sua resistência, para eliminá-los como uma classe" - Stalin.
Por trás desse debate existem outras questões importantes, como:
Esses e outros detalhes foram desenvolvidos no III episódio de História do Comunismo. O episódio será lançado nesta quinta-feira (28/03) gratuitamente no canal do YouTube da Brasil Paralelo, às 20h.
Os Membro-Assinantes já tem acesso aos III primeiros episódios no streaming da Brasil Paralelo - toque aqui para assinar e ter acesso a diversos benefícios.
De acordo com os historiadores Thomas Woods e Robert Conquest, pode-se contabilizar ao menos 14,5 milhões de mortos. A maioria das vítimas morreu de fome, outras morreram fuziladas pelos soldados comunistas ao tentar fugir da Ucrânia.
As menores contagens confiáveis indicam 5 milhões de mortos.
Walter Duranty, correspondente do The New York Times em Moscou, disse por correspondência a William Strang, diplomata britânico na Rússia, em 1932, que ele pensava ser “bem possível que até 10 milhões de pessoas tenham morrido diretamente ou indiretamente por falta de comida”.
Os historiadores Thomas Woods e Robert Conquest explicam que, devido aos efeitos da fome ao longo prazo e as prisões e assassinatos dos dissidentes, pode-se contabilizar 14,5 milhões de mortos até 1937.
A fome era tamanha que há registros de canibalismo. O grande genocídio comunista foi chamado de Holodomor, palavra ucraniana que significa mortos pela fome.
O Holodomor não teve fim de maneira imediata, mas gradual. Um episódio que marcou o fim dos piores casos de fome foi o encerramento do plano quinquenal de Stalin, em 1932. Neste ano os soldados passaram a interferir menos no plantio ucraniano.
Contudo, conforme apontado pelos historiadores já mencionados, os efeitos da retirada dos alimentos ucranianos causou problemas durante os anos seguintes.
Walter Duranty e Gareth Jones foram os principais responsáveis por denunciar o Holodomor. Ambos os jornalistas relataram o caso em 1932. Gareth usou o nome holodomor já em 1932.
A Ucrânia possui diversos rituais em homenagem às vítimas. O 4º sábado do mês de novembro é o dia oficial em que os ucranianos se reúnem e fazem memória dos antepassados assassinados.
Kiev, a capital do país, possui um museu de 14 mil km2 em homenagem às vítimas de Stalin. O intuito do museu também é guardar a memória do ocorrido para as gerações posteriores.
Curiosamente, o Holodomor não é ensinado nas escolas brasileiras, nem mesmo lembrado pela grande mídia.
Para saber mais sobre o Holodomor e outros crimes cometidos pela União Soviética, assista o Épico História do Comunismo.
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