Rasta

Rasta é um highlander, um artista que apresenta colunas irônicas, versões textuais de seu programa Rasta News, um jornal semanal isento de notícias. Não delicadezas aqui.

Revelado o segredo de Brasília!

Por essa ninguém esperava! Fizeram de Brasília a cidade do futuro, antro da modernidade, mas esqueceram de fazer algo sem data de validade…

Rasta

Com uma ideia ruim…

Voltemos ao ano de 1891, quando, dois anos após uma ideia ter findado a  monarquia e parido uma republiqueta, fomos brindados com a primeira constituição republicana, onde uma ideia ruim determinava que:

"pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal".

Após algumas décadas de alguns estudos, eventos e enrolação, nos anos 50, esta ideia começou a esquentar. O presidente Café Filho chamou o Marechal José Pessoa para presidir a Comissão de Localização da Nova Capital Federal. Baita nome ruim.

O Marechal, sempre um homem muito vibrante e prestativo, aceitou a missão e foi sob seu comando que foi definida a localização de Brasília, que naquela época ainda seria chamada de Vera Cruz, e teria avenidas com nomes mais heróicos, como “Independência”, “Bandeirantes”, ao contrário do que nos foi presenteado, como a Via W3, SQP, MPNSC.

Só que, em 1956, o Marechal, que já não se entendia com o então presidente, Juscelino Kubitschek, sentiu um cheirinho de tremenda bigodagem e falcatrua, e acabou saindo da direção do projeto da nova capital e foi cuidar da sua vida.

Foi a partir daí que uma nova diretoria foi estabelecida, alterando o nome da capital para Brasília e designando, após um concurso, Lucio Flávio para ser o projetista da cidade, a quem se juntaram o designer notório Oscar Niemeyer e o engenheiro Joaquin Cardozo, para projetarem os edifícios da cidade.

O resto desta história já nos foi muito bem cantada na canção dos embaixadores dos Acadêmicos de Milton Friedman:

“Juscelino presidente
De juízo decadente
Gastou bilhão e meio
Num projeto cabuloso
Arquiteto galeroso
Futurísta, iconoclasta
Fez um banheiro em forma de avião pra abrigar o burocrata
Lá no meio do deserto,
Na surdina, de assalto…”

Aquilo custou 1 bilhão e meio de dólares? Para um desavisado, pode parecer pouco, mas essa quantia era equivalente a 10% do PIB do Brasil na época.

É como se para construir uma cidade cujo objetivo inicial era ser habitada por 500 mil pessoas após 40 anos, gastássemos hoje 730 BILHÕES de reais.

Mais uma clássica redistribuição de renda do bolso do cidadão para o bolso de empreiteiras, políticos, arquitetos, engenheiros e amigos.

Não por acaso, dizem especialistas, que foi naquele momento que um misto de falcatrua e bigodagem, consumou o casamento mais harmonioso, longevo e feliz dos últimos 60 anos: o casamento das empreiteiras com a classe política.

Mas toda essa gastança, vem sempre com grandes justificativas, promessas de dias gloriosos. É nessas horas que surgem os primeiros criticando a corrupção que teria ocorrido na construção de Brasília. E é aí também que aparecem outros querendo justificar o injustificável e dizendo que a esposa do JK morreu morando num apartamentinho simples de classe média.

Seria esta a prova de que JK não levou nada para o próprio bolso? Meus amigos, para vos falar a verdade, esta é uma discussão vã.

A mim, pouca diferença faz se aquela fortuna foi para um bolso de um político, empreiteiro, arquiteto ou mesmo se foi tudo muito corretamente investido, sem nenhum desvio, mas para construção de um edifício em forma de ovo cozido. Vocês pensam muito em dinheiro.

O que entristece um Rasta aqui é pensar que aquele monte de concreto de alta qualidade foi desperdiçado para construir duas estacas, cercadas por um disco espacial.

Quem sabe, se tivessem desviado tudo, Brasília nunca teria sido construída e ainda teria a chance de que quem roubasse todo esse dinheiro investisse em algo mais economicamente razoável do que prédios e edifícios onde as pessoas se sentam para escrever leis e produzir técnicas avançadas de taxar o cidadão.

As outras justificativas para construir Brasília seriam cumprir um objetivo estratégico geopolítico de ocupar o território nacional, além de modernizar o país, e diminuir as distâncias.

Para seguir avançando essa agenda, eu convido todos os nossos amigos desenvolvimentistas a se mudarem para o meio da Floresta Amazônica e irem ocupar melhor o território nacional. Vai lá. Siga na luta.

É óbvio que o que moderniza e diminui as distâncias entre as regiões do Brasil não é colocar a capital num local sem história, criando um governo sem um povo. O que moderniza as coisas, costumeiramente é uma desregulamentação que facilite e acelere a exploração econômica do local, e o que diminui as distâncias e unifica a nação é o telefone, a internet, o zap zap, ou até mesmo um avião.

E falando em avião, o pior de tudo é essa tal ideia que dizem por aí sobre o formato de avião. Eu sempre achei isso uma ideia horrível. Não tem coisa mais zoada de explicar para um gringo do que explicar que a nossa capital tem formato de avião.

Fica parecendo um país de jecas que, tomados por uma embriaguez de sucesso tecnológico, saíram construindo e hoje estão presos neste passado como se o avião ainda fosse a mais nova novidade do verão.

Mas apesar de esta impressão ser correta e verdadeira acerca do espírito modernoso dos projetistas, não é correto afirmar que Brasília foi planejada para ter a forma de um avião.

Ouvi dizer que Lúcio Costa até se irritava quando alguém falava em tal despautério. Atualmente, muitos urbanistas afirmam que a origem da forma é incerta.

Poderia ser a de um pássaro, uma borboleta, uma libélula ou apenas o resultado da topologia, mas, entre todas, a tese que me é mais curiosa é a que diz que a nossa capital foi inspirada na antiga cidade egípcia de Akhetaton. Formando assim, como explicou muito bem o professor e egiptologista Beto Jamaica, uma mistura do Brasil com o Egito.

Na dúvida, enquanto os estudantes ainda não se decidem, eu vou levando e quando me perguntam sobre Brasília, eu invento e digo que a cidade foi projetada para parecer um banheiro. Ao menos, assim os povos desenvolvidos acham o nosso país mais pitoresco e interessante.

Mas voltando ao que dizia, estávamos falando sobre esse papo de egípcios, mundo antigo, Akhetaton, Tutancâmon, Pokémon, Sine Qua Non. Certamente é algo mais recreativo do que a tal forma de avião.

A verdadeira origem de Brasília?

Uma ideia que ganhou temperos crocantes exclusivamente porque o JK, ao escrever um livro com muitas folhas, afirmou que ainda se perguntava a si mesmo se:

“essa admiração por Ahkenaton, surgida na mocidade, não constituiu a chama, distante e de certo modo romântica, que acendeu e alimentou meu ideal, realizado na maturidade, de construir no Planalto Central, Brasília”.

Teria ele confessado? Polêmico. Selvagem. Sensacionalista.

Para quem tem bócio e não sabe, Akhenaton é aquele faraó egípcio lembrado até hoje por ter sido o cara que resolveu dar fim aos 500 mil deuses sendo venerados ao mesmo tempo no Egito antigo e tentou reduzir a somente a somente um deus, Áton, que era representado pelo sol.

Nessa toada, ele também resolveu fundar uma nova capital para o Egito, Akhetaton, que seria uma cidade-templo, a céu aberto, onde os populares poderiam venerar o deus Áton.

Mas as similaridades entre Brasília e Akhetaton vão além da forma da cidade. Em Brasília, como observaram estudiosos, místicos, numerólogos e outros espiritualistas, foram incluídos diversos elementos que nos lembram o Egito antigo:

  • edifícios em forma piramidal;
  • a presença de um lago artificial para refrescar a cidade;
  • a posição de certas esculturas;
  • e muitas outras bruxarias, práticas subterrâneas, e principalmente a idolatria infinita a falsos deuses, no caso dos egípcios, o deus Áton e, nesse caso, o culto ao deus Estado.

Muito se critica a arquitetura de Brasília, mas verdade seja dita: nem tudo sobre Brasília está errado. Muito pelo contrário.

A verdade sobre Brasília

Talvez fosse tão correto e necessário construir Brasília que até nos custou a entender a importância daquela cidade.

Brasília é um ato de esnobismo e de auto-reverência que demonstra como os políticos e burocratas enxergam a si mesmos fora do espectro do homem comum.

Esta classe vê a si mesma mais próxima dos deuses e oferece a si própria direitos especiais e divinos, de taxar e mandar, como faziam os antigos faraós, só que hoje ainda na velocidade da internet, com alta tecnologia.

Talvez Brasília fosse fundamental e necessária para materializar o que é o Estado brasileiro e o que é o cidadão.

Eu fui ao Rio recentemente e percebo que alguns cariocas acreditam que por conta da mudança da capital, o Rio perdeu relevância e se tornou o caos que é hoje.

Isso é o que se vê, mas o homem rochedo é aquele que vê o que não se vê. Os indícios nos indicam que não importa onde fica a capital da nossa republiqueta, a tendência do Brasil e dos países latino americanos é o caos.

Talvez possamos afirmar que foi ruim para o Brasil, mas para o Rio creio eu que foi vantajoso não mais ter que compartilhar suas paisagens diariamente com um número ainda maior de deputados, senadores, lobistas, ministros e servidores…

Não tem poder e imposto neste mundo que faça valer a pena carregar o estigma de ser a capital parasita da nação. Grande dia pro Rio e para o povo carioca.

Ex-felizmente, o processo democrático está longe de ser suficiente para que a elite política imagine que eles mesmos são, ou deveriam ser, meros cidadãos comuns representando os outros temporariamente.

A mentalidade ainda é composta de visões messiânicas e de fantasias de grandeza. Surpresa? Nunca. Afinal, boa parte dos brasileiros ainda trabalha 5 meses do ano só para pagar imposto.

Uma outra parte vive destes impostos. Então, o sistema de servidão do cidadão brasileiro é algo bem estabelecido e o senso de poder e onipotência de certas elites não é menos do que adequado.

As ideias muito modernas duram pouco. Por isso que as ideias de esquerda são sempre rebranded a cada década, por falta de significado real fora a busca incessante pelo poder, a coisa se veste de um parlapatada que quer causar e aparecer para o jovem, gado demais, com ares de ser aquele cajuzinho, a nova onda do verão, foi assim que saltamos da revolução proletária para 357 gêneros.

O filósofo ruivo dos dentes estragados, em seu tratado sobre as vantagens do pessimismo, chama a atenção para uma falácia que ele chama de "a falácia do espírito que se move"

Essa porcaria é um daqueles erros do anjo pigmeu caolho que atrapalha o nosso juízo. Este em particular, verdade seja dita, é muito útil para quando a gente está estudando história da arte e tentando fazer sentido de diversas obras e colocá-las dentro de categorias estilísticas: renascença, barroco, classicismo, romantismo, realismo, modernismo, pompoarismo etc.

Mas traz consigo um vício terrível que é um olhar para as coisas em retrospectiva e enxergar uma espécie de evolução contínua que aponta indefinidamente para o futuro e para o progresso.

Um espírito dos tempos, um zeitgeist cavalgando rumo às excitantes promessas de um futuro melhor de libertação do homem e superação das amarras que uma natureza essencialmente má nos impôs.

Bom, não é aqui o meu propósito mostrar como a ideia de uma natureza essencialmente má é tipo uma bola quadrada, mas basta entender que essa ideia maluca está lá e fez com que diversos artistas aceitassem e começassem a propagar a ideia de futuro como algo sempre melhor, sempre promissor, sempre repleto daquela esperança falsa e mundana daqueles que já abandonaram toda esperança verdadeira e eterna.

Então o espírito do tempo futuro, do cajuzinho, torna-se uma espécie de argumento estético. E é exatamente aí que mora o perigo. Quando você olha essas bizarrices de Brasília, cidade dos jetsons, ou de museu do amanhã, chega uma hora que o amanhã vira ontem, e a sua obra fica parecendo um banheirão cheio de infiltração, como o Palácio do Congresso, ou um ar-condicionado velho, como o Conjunto Nacional, ou um Bradesco.

Existe até um caso engraçado com o prédio do Masp. Eu estava de férias andando em São Paulo e tentei entrar no Masp para sacar um dinheiro, depois fui ao Ibirapuera e fui tentar comprar um sanduíche ali naquela hamburgueria que tem uma línguona vermelha, mas me disseram que era um anfiteatro e que ia rolar um show.

É uma perversão do design, tipo colocar um convento carmelita num prédio de azulejo sob pilotis com uma luz vermelha e um letreiro neon e ficar se perguntando como é que o Joaquim Teixeira foi capotar o Del Rey lá.

Ou aquelas pias quadradas badabauê que tinha no meu apartamento no Brooklyn. Pelo amor de Deus, a pia é feita para escorrer água, a concavidade está aí, no logos, desde os tempos mais primórdios para facilitar isso aí para a gente e os caras me inventam de fazer uma base plana, para ficar aquela nojeira ali depois de 1 dia, parecendo um quadro do Pollock?

No fim das contas. A cidade do futuro passou, e ficou como a capital da bigodagem. E falando em Bigodagem, é hora do nosso troféu bigodagem.

Troféu Bigodagem

trófeu-bigodagem

E o Troféu Bigodagem de hoje vai para ele, o arquiteto galeroso que passou mais de 100 anos gastando dinheiro público, vidro e concreto, enquanto despejava litros do mais puro suco groselha estragada: o Notório Oscar Niemeyer.

O que são 100 anos? 10 décadas. 36.500 dias. Dá para fazer 25 copas do mundo, votar em 25 presidentes, criar tartarugas ou escutar a introdução de uma música do Dream Theater.

Cem anos são um quinto da história do Brasil. Imagine só passar um quinto da história do Brasil recebendo repasses de dinheiro do povo trabalhador para realizar fantasias e obras, sempre com uma desculpa de alguma importância maior de grandeza quase espiritual metafísica que nem parece que estamos falando sobre a obra de um ateu.

As desculpas são muitas quando se trata de pilhar o cidadão. É importante para a cultura. Consequentemente, para a educação. Consequentemente, para o desenvolvimento. Consequentemente, para o futuro. Consequentemente, importante, necessário e indiscutível para tudo.

Em 2007, o arquiteto preferido da nossa elite política completou 100 anos de vida e foi celebrado por todo o país.

Este homem que de 1996 a 2008, ou seja, entre os 89 e 101 anos, conseguiu faturar, apenas na nossa capital, Brasília, uma bagatela de mais de 33 milhões de reais.

“Aí, Rasta, mas estes são edifícios necessários, não foi ele quem inventou de construí-los, tem licitação”

Não é bem assim que a banda toca, meus amigos. Então, segura esse teu arpejinho e essa tua escalinha trancada. Licitação é coisa dos comuns. Coisa para o afegão médio. Coisa da plebe.

Cabe a uma certa elite de burocratas definir quem são os cidadãos que merecem fazer parte de uma outra elite, classificadas pelos burocratas como pessoas notórias.

“Licitação é coisa do passado, a moda agora é ser notorizado.”

Portanto, aos notórios lhes permite fazer obras financiadas pelo cidadão sem passar por licitação alguma. Este era o caso do nosso arquiteto, um visionário do mundo moderno.

Não fica difícil entender que a tal modernidade é uma tremenda conveniência. Se houve um tempo em que tínhamos reis, duques, condes, barões e fidalgos, hoje temos os Notórios, uma nobreza muito mais discreta na exposição de suas vantagens, nunca criticada como tal, mas que não deixa de comparecer ao lado de políticos para receber a sua parcela do nosso dinheirinho.

Muito notório na arquitetura, o escritório do Notório Niemeyer também aproveitava quando possível para capitalizar por fora.

Foi o caso de uma restauração no Palácio do Planalto, em 2007, quando o escritório faturou 1 milhão de reais oferecendo um serviço de engenharia. O Ministério Público criticou, e quando se começou a falar por aí sobre as vantagens obtidas pelo Notório, exclusivamente surgiu Cristovam Buarque para defendê-lo com mais uma das suas frases prontas, dizendo:

"A grife de Niemeyer é muito valorizada. Sempre se pagou porque ele conquistou isso. Gênio é assim: dificilmente é unânime”.

Concordo. Uns gostam, outros criticam. Enquanto não chegamos a um consenso sobre as suas supostas genialidades, toma aqui meus 33 milhões de reais para você ir vivendo. Se ele era eficiente e competente no ofício, segue sendo discutido. Não sei. Mas que ele era muito ativo nos bastidores, isso eu diria que certamente com certeza.

Muito ativo e bastante generoso com a sua família, a quem, de acordo com o correio das bruxas, dava mesadas mensais: 200 mil reais por mês. Tinha netos de 60 anos recebendo 15, 25 mil reais de mesada. E tinha bisneto de 40 anos recebendo 10 mil reais mensais.

Que delícia, tava bom o meu imposto, né? Prova também do seu desapego e da sua generosidade foi que o Notório desenhou gratuitamente o projeto do edifício do Partido Comunista Francês, ou esta escultura bisonha que ele deu ao governo comunista cubano, que representa a luta do povo cubano contra o império estadunidense. Parece um pikachu de Chernobyl.

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O Pikachu de Chernobyl que fica em Cuba.

Já com o nosso Brasil ele não foi tão generoso. Para os brasileirinhos, Niemeyer cobrou desde os tempos mais primórdios, desde o seu primeiro projeto:

  • o edifício do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, construído a partir de 1936;
  • o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, feito 1942 pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek, com o objetivo de desenvolver o Norte da cidade, já demonstrando sua vocação para o devaneio de sucesso.

Niemeyer seguiu nessa ao longo dos anos 40 e 50 realizando muitas obras com o dinheiro seu, dos seus avós e dos seus pais, passando pela construção de Brasília nos anos 60.

Quando os militares assumiram o poder em 64, para o Notório, ficou tudo mais médio e então ele foi morar na França, onde ex-felizmente não sofreu por falta de trabalho.

Nos anos 70, Niemeyer caiu nas graças do Coronel Houari Boumédiène, chefe da junta militar revolucionária que havia dado um golpe de estado em 1965 e governava a Argélia através de uma ditadura com fortes temperos socialista com direito a nacionalização das indústrias e cooperativas agrárias.

Boumédiene ofereceu a ele a oportunidade de ganhar mais dinheiro para produzir suas obras. Apesar de picareta, parece que Niemeyer neste sentido foi um homem coerente: morreu sendo fã declarado de ditador genocida, então não se pode criticá-lo por aceitar trabalhar para uma ditadura.

Afinal, para quem sempre gostou de viver da pilhagem, não faz diferença alguma se o rombo é feito por métodos mais ou menos democráticos.

Após a sua deliciosa temporada em Paris, o Notório voltou ao Brasil no início dos anos 80. E voltou bombando no nosso bolso. No Rio de Janeiro, seu amigo Darcy Ribeiro, na ocasião era vice do governador comunista Lenoel Brizola, e descolou para ele alguns projetos valorosos, como a construção do sambódromo e umas 500 escolas, as tais CIEPs.

Em Brasília, ele capitalizou com a construção do memorial JK. Em São Paulo, fez o Memorial da América Latina. De volta ao Brasil, Niemeyer estava de volta à sua melhor forma, muito ativo, voando alto e dando rasantes nos tributos, como uma ave de rapina.

Além das belas frases do Notório que circulam pela internet são:

  • “A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem” e a gente tem que trabalhar, né Oscar? senão os sonhos dos notórios não acontecem;
  • “A vida é um sopro… A gente vem aqui, conta uma história e vai embora.”;
  • “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país,  no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. Nas curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein” além de gado demais, o cara vem com esse papo sobre Einstein típico de Charlinho que assiste à série Cosmos.

Então, deixamos aqui exclusivamente para vocês esta história que foi contada e recontada com muitos recursos públicos: A história do Notório Oscar Niemeyer, grão-mestre do mais alto círculo da ordem dos feiticeiros da transmutação de dinheiro em pilhas de concreto.

Niemeyer que não voltará a este mundo para nos explicar como desfazer tais feitiços para que possamos reciclar todo este material em fins mais eficientes, nobres e úteis e que, portanto, não será jamais responsabilizado. Ao menos, não neste mundo.

Então, venho aqui humildemente oferecer mais um honraria ao arquiteto mais multi-premiado e privilegiado da história do Brasil. Podem acrescentar lá na Wikipedia, ao Notório Oscar Niemeyer, o nosso troféu bigodagem. E depois mandem os prints.