Arthur Morisson
Área Restrita - Sou responsável pelo que escrevo, não pelo que você entende.
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Um apelo à classe artística: sejam artistas

Por 
Arthur Morisson
13/5/2022
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O erro do brasileiro é achar que rapper é cientista político.

Tu é só artista, meu irmão. Não é porque você canta sobre a vida na periferia ou estrela uma novela no horário nobre da Globo que já pode opinar sobre a economia do país…Relaxe aí.

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Antes de discorrermos sobre nossa querida classe artística, recordei-me de uma historinha que ouvi certa vez e acredito ser oportuna para entendermos melhor o atual cenário do entretenimento brasileiro. 

Era uma vez, um pasteleiro que queria ganhar a vida vendendo pastel de jiló.

Ele resolveu empreender suas economias e abrir seu próprio negócio.

Até aí ok, afinal, nenhum indivíduo foi prejudicado no processo.

Infelizmente, por ironia do destino, a pastelaria dele era um tremendo fracasso, e quase ninguém estava interessado em pastel de jiló.

Um belo dia, o pasteleiro cismou que a existência da sua pastelaria era muito importante "para a sociedade", e que o governo deveria sustentá-lo com dinheiro público, para que ele pudesse continuar fazendo o peculiar pastel de jiló, mesmo que ninguém quisesse comprar.

Algumas pessoas, compreensivelmente, foram contra. 

Elas achavam que o dinheiro do pagador de impostos não deveria ser usado para sustentar a produção de algo que ninguém quer consumir.

"Que absurdo!" - disse o pasteleiro - "Então vocês acham que a alimentação não é importante?"

“Estão acabando com os meus sonhos!”

O que o pasteleiro não entendia, é que o pastel de jiló dele não era "a alimentação". Era só uma das incontáveis alternativas de alimentação que existem no mercado.
Se ele fosse à falência, como provavelmente aconteceria, a alimentação do país não acabaria.

As pessoas continuariam consumindo os demais produtos normalmente, conforme suas necessidades e preferências.

E o pastel de jiló seria apenas mais um projeto fracassado saindo de cena, dando espaço para alguém tentar algo melhor, mais adaptado ao gosto do povo.

Obviamente, essa história não é sobre pastéis.

É sobre artistas, poetas, atores, dançarinos, compositores, músicos, roteiristas, cantores e cineastas que querem ser sustentados pelo governo para produzir conteúdo que ninguém quer consumir.

E que acham que, se o governo não der dinheiro para eles, "a cultura" vai deixar de existir.

“Arte não é mercadoria!”

Desculpa, meu picolé de chuchu, mas é sim.

Se você vir algum artista bradando aos quatro ventos que "arte não é mercadoria", existe 96,3% de chance de ele estar defendendo o seu suposto direito de ganhar dinheiro com o que faz, independentemente de ter alguém querendo pagar para assistir.

Dinheiro público, evidente. 

Porque ele deseja que o povo seja forçado a dar dinheiro para ele, afinal, a “cultura não pode morrer”.

Meu Deus, que drama!

Ele realmente acredita que o estado deve patrocinar via impostos a sua performance sobre dedo naquele lugar e gritaria.

Sem seu dinheiro, o povo não teria acesso direto à obra de arte “O anel do Ouroboros" (dedo sobre couro, 2015).

Quando afirmam que “arte não é mercadoria", é porque não querem ter que atender às necessidades do consumidor. Mas quando chega na parte de receber pela arte.... ah, essa eles aceitam com prazer. 

Ninguém te deve dinheiro algum

Artista precisa parar de acreditar que é uma "raça superior" que deve ser bajulada.

Se eu abrir uma padaria e fizer um pão que ninguém gosta, eu posso - E DEVO - ir à falência. 

(Provavelmente é o que aconteceria, pois não sei nem por onde começar a fazer pão)

Igualmente, se você montar uma banda, uma peça de teatro ou o que for, e criar uma "arte" que ninguém quer pagar, seu negócio também pode - E DEVE - ir à falência.

Detalhe: ainda que você ache sua ideia a mais original do mundo.

Sem floreios. Preto no branco. Oferta e demanda.

Você, artista, não é melhor que o padeiro, que o pipoqueiro, que o cabeleireiro, que o pizzaiolo. Você é igual a todos eles.

Se você almeja ganhar dinheiro com o seu negócio, é necessário atender uma fatia de mercado fazendo algo de que o público goste - a ponto de estar disposto a pagar por isso.

E sim, sua arte é um negócio. Se você pretende ganhar dinheiro e viver disso, é um negócio.

Senão é hobby, e aí menos ainda que o governo tem que ficar te bancando, né campeão?

"Ain, mas a cultura é importante para a sociedade crescer como um todo e pipipi popopó"

Ou seja: se Chico Buarque não ganhar seus milhões com leis de incentivo, não haverá rodas de samba nos morros e nas periferias. 

Se a minha padaria falir, A ALIMENTAÇÃO do país não vai acabar. 

Do mesmo modo que o seu teatrinho sobre orgias em saunas gays não é "A CULTURA".

É só um negócio que deu errado. 

Supere.

Se algo só se mantém se receber dinheiro do governo, então é porque o povo está demonstrando, de forma clara e voluntária, que não quer sustentar espontaneamente essa atividade.  

Se algo é realmente bom e demandado, não precisa de subsídios.

Autonomia criativa

Em qualquer área em que não há estabilidade, todos descobrem rapidamente que, se quiserem se manter no mercado, deverão demonstrar talento e determinação. Bajulações não funcionam, ao contrário do que ocorre em empresas estatais.

O profissional ou artista autônomo mantém seus valores em função da procura por seus serviços ou artes.

A primeira coisa que todos eles aprendem é que o mercado é instável. A segunda é que têm que saber lidar com isso. E a terceira é que quanto mais distantes estiverem da burocracia estatal, mais e melhor trabalharão.

As oscilações do mercado podem render tanto uma dispensa quanto uma promoção.

Meus pais não são artistas, mas também são autônomos. O que significa que eles podem tirar muito mais do que num trabalho de carteira assinada, mas isso depende exclusivamente deles.

Não há férias remuneradas. Não há bonificações. Se adoecerem, o dinheiro não entra na conta.

O resultado dessa flexibilidade é um dinamismo onde todos os envolvidos se adequam o tempo todo ao mercado, com cada um se aprimorando e exercendo sua liberdade de gerir seu trabalho da maneira que lhe convém, conforme o momento.

E é justamente por causa desta liberdade que a indústria criativa está sempre à frente dos outros setores da economia, tanto em inovação quanto em qualidade de condições de trabalho.

Não é crime viver de arte

O próprio comunista Charles Chaplin confessou

"Eu entrei nessa ocupação por dinheiro, e a arte brotou daí. Se as pessoas ficam desiludidas com essa afirmação, não há nada que eu possa fazer. É a verdade".
 Se um comunista não acha errado lucrar com arte, porque eu acharia?

O que não falta são profissionais fazendo um excelente trabalho de forma criativa e inteligente, e sendo muito bem remunerados por isso.

A arte como mercadoria, portanto, enriquece nossa vida com mais acesso às culturas do passado e do presente, dá aos artistas mais independência, diversifica e amplia as criações culturais e, não menos importante, é uma arma contra aqueles que querem destruir a todo custo o bom, o belo e o verdadeiro.

Deixemos então que ela seja livremente demandada pelos consumidores e financiada espontaneamente por essas pessoas. 

Isso se chama livre mercado.

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