Essa história nos leva ao sertão nordestino, entre os anos 1922 e 1938.
Mas se você pensa que o que vou contar é apenas coisa do passado, sinto dizer, está enganado.
O tempo passou, a barbárie do crime continua e o heroísmo às avessas, também conhecido como bandidolatria, existe até hoje.
Não mais só no sertão do nordeste, mas nesse Brasil inteiro, de norte a sul.
"Olê mulher rendeira
Olê mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar"
Virgulino Ferreira da Silva era chamado de Lampião.
Além de compositor dessa famosa e aparentemente inocente música, Lampião era também o "Rei do Cangaço".
Quando ele e seu bando chegavam nas vilas cantando, era a certeza de que uma dessas duas coisas aconteceria: muita festa ou muito sangue.
Se o povo lhes negasse dinheiro e comida, faziam sua festa particular: raptavam crianças, estupravam mulheres, torturavam e matavam sem piedade. Fazendas inteiras eram queimadas junto com seus rebanhos.
Lampião dominou o Nordeste a ponto de quase formar um império.
Ele e seus bandoleiros cometeram incontáveis atrocidades.
“Sangravam” pessoas, apunhalando-as entre a clavícula e o pescoço.
Arrancavam olhos, orelhas e línguas.
Marcavam rostos de mulheres com ferro quente.
Castravam os homens à faca,
O que provocava gargalhadas gerais entre os cangaceiros.
Lampião se divertia muito com essas coisas.
Certa vez, minutos antes de um de seus maiores ataques, ordenou que toda a sua tropa cantasse Mulher Rendeira a plenos pulmões enquanto gritava uma ordem de morte a todos os que estivessem ali.
E foi assim, em mais de 30 anos de matança, que o Rei do Cangaço e muitos de seus bandoleiros, todos sádicos e foras-da-lei, tornaram-se ídolos populares.
Até hoje, os túmulos de alguns cangaceiros são locais de devoção e visitação.
A população não faz honras ao prefeito de uma das cidades invadidas, que morreu em combate.
Nem ao Coronel que liderou a resistência ao cangaço.
Mas aos cangaceiros que cantavam antes de matar. E riam depois de cantar.
Já não estamos mais entre 1922 e 1938.
Estamos na década de 2020, porém…
Vivemos em tempos do "novo cangaço".
Cada vez mais, crimes são praticados durante a noite ou madrugada por "bandos" extremamente agressivos e fortemente armados.
Cidades do interior são sitiadas e reféns civis são usados como escudos para que o bando possa roubar principalmente bancos e grandes quantias de dinheiro.
Assim, os "novos cangaceiros" dominam as cidades e aterrorizam a população.
Assassinos circulam mais livres que cidadãos de bem.
Bandidos têm mais benefícios e regalias que policiais.
A mídia inverte os papéis.
Os policiais são apresentados como criminosos e os bandidos, aparentemente, se transformam em vítimas.
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