Guilherme Freire
O que há de errado com o mundo?
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Em Busca do Sentido da Vida

Por 
Guilherme Freire
9/6/2022
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Viktor Frankl é um importante psiquiatra austríaco responsável pela 3ª escola vienense de psicoterapia, que é mais conhecida como Logoterapia e análise existencial. Um de seus maiores legados, foi seu livro Em Busca do Sentido da Vida.

A obra contém reflexões de Frankl sobre a importância do sentido da vida. Seus pensamentos, são frutos de sua experiência em campos de Concentração Nazistas.

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Logoterapia transmite a ideia de sentido. A palavra grega Logos evoca termos bem conhecidos por nós: palavra ou razão e a ideia de sentido. Portanto, a Logoterapia é a terapia por meio do sentido.

Viktor Frankl conta nesse livro como ele sobreviveu ao Campo de Concentração e suas experiências durante este período.

São relatos incríveis, Frankl refletiu sobre diversos assuntos e os divide em sua obra. No início do relato, o autor apresenta sua indecisão sobre se deveria fugir da ameaça nazista ou permanecer em seu país protegendo os seus familiares.

Durante a indecisão, ele relata que encontra uma pedra na qual lia-se “honrar pai e mãe”. Com isso, resolve ficar e acaba sendo preso e levado para um campo de concentração.

Isto é um episódio impressionante da vida dele. No campo de concentração, Frankl ressalta alguns pontos interessantes. O primeiro é que mesmo com todo o controle dos oficiais nazistas e com o desespero que o campo incentiva, existe a possibilidade da pessoa encontrar o sentido face aquele sofrimento.

Encontrando o sentido, a pessoa evita cair no desespero. Para Frankl, caso a pessoa tenha um sentido face a um sofrimento, ela evita o desespero. Evitando o desespero, evita-se cair em vários ciclos viciosos maiores que fazem um mal tremendo para a existência e para a alma humana.

Frankl relata comportamento como agressividade e outros vícios que são despertados com a falta de sentido.

Uma das conclusões de Frankl é que a pessoa que é vítima de um sofrimento pode cair em desespero se não tiver um sentido maior para tudo isso. Seja o sofrimento pequeno e simples, seja ele enorme.

As pessoas do campo de concentração eram vítimas dos piores sofrimentos: privação de sono, fome, maus tratos físicos, e um constante terror psicológico diante da constante possibilidade da execução.

Existe um episódio na vida de Dostoiévski em que fingem que vão executá-lo. Isso impactou sua vida tremendamente. Há um terror enorme diante da possibilidade de saber que pode ser executado.

Cair no desespero significa estar envolvido num ciclo de vícios, vivendo uma vida vazia. Mesmo no Campo de Concentração, diante de inúmeros sofrimentos, as pessoas são capazes de encontrar sentido e dar uma significação para a experiência que estão vivendo.

Uma das primeiras experiências que as pessoas enfrentam no campo é a despersonalização. O indivíduo que passa por essa experiência vive a tragédia de sentir-se desumanizado. Diante disto, ela tem de fazer uma escolha: cada dia buscar um sentido para essa experiência, ou se resignar e se entregar ao desespero sendo determinada por forças externas.

Frankl, em seu período no campo, diferencia as pessoas cruéis das pessoas boas. Em geral, as que se entregam ao desespero tendem a ser cruéis.

Mesmo entre os oficiais alemães que cuidavam dos campos, existiam aqueles que eram bondosos, que se colocavam em risco para ajudar ou até mesmo salvar alguns prisioneiros.

Ao mesmo tempo, existiram também pessoas que foram vítimas da prisão nos campos e se tornaram colaboradores dos oficiais nazistas. Eles contribuíram na perseguição de seus colegas prisioneiros, denunciavam ajudas de oficiais e tentativas de fugas.

Uma coisa absolutamente terrível, mas que acontecia de fato. Frankl narra todos esses acontecimentos. Ele analisa esse comportamento de colaboração com a escolha moral e ética que a pessoa faz no campo.

A pessoa pode escolher o caminho do bem, ou simplesmente se vender completamente para encontrar algum conforto. Vender seus ideais, seus companheiros.

Em sua obra, Frankl foge da ideia do Determinismo, que as pessoas são determinadas pela situação. Quando ele fala dessa luta pelo sentido, Frankl comenta um episódio muito interessante.

Um grupo de judeus enfrentava o cárcere do campo há algum tempo. Eles já conheciam as regras e os castigos para quando as desrespeitavam. Apesar disto, e de todo o terror que já viviam habitualmente, ajudaram um grupo de pessoas. Eles sabiam as possíveis consequências e o castigo foi a privação completa de comida.

Frankl mostra com esse episódio como o sacrifício pelo outro é algo valioso, que verdadeiramente oferece sentido à vida. Todos estes do grupo que se dispuseram a ajudar, mesmo sabendo que um castigo os aguardava.

O sacrifício é um ato que leva a pessoa ao encontro da outra. Seja de outra pessoa ou até mesmo de Deus. É um ato externo que a pessoa não se atribui, mas pode oferecer ao próximo. Sem dúvidas, este é um caminho de sentido para a vida.

Tanto que o sentido que Frankl encontrou para si foi ajudar as outras pessoas a encontrar o sentido para suas vidas. Sentido para Frankl é algo que as pessoas fazem como serviço, como dever.

A cada dia deve ser oferecido o dever, o serviço como uma verdadeira entrega. Frankl, anos depois de ter enfrentado o Campo de Concentração, vê pessoas muito entristecidas, em situações psicológicas terríveis, mas que não enfrentaram nada de tão terrível como foi o campo.

Seus pacientes muitas vezes não faziam ideia do que Frankl enfrentou no campo, e essas pessoas sofriam terrivelmente com pequenas coisas.

O psicólogo relata também o caso de pessoas que dedicaram bastante de suas vidas a adquirir força física, a ter um corpo forte. Frankl conta como muitas delas faleceram antes porque lhes faltava a força mental, psicológica.

A força psicológica era muito mais importante que a física para a sobrevivência no Campo de Concentração. Pessoas muitas vezes muito magras, enfrentando as penas dos trabalhos forçados, mas que tinham essa força mental, tinham um sentido, e conseguiram sobreviver mais tempo aos desafios do cárcere.

Sobreviver mais tempo significa que a pessoa conseguiu se sustentar moralmente no campo por mais tempo, antes de ser mandada para a execução.

Com essa experiência do campo, Frankl vai ajudando cada uma das pessoas ao seu redor a encontrar o sentido, a terem essa dimensão da vida.

As pessoas realmente são vítimas de muitos problemas na vida, mas existe uma tendência ao vitimismo na sociedade atual. Frankl até brinca que na costa leste americana, existe a Estátua da Liberdade, mas que falta uma estátua da responsabilidade na costa oeste.

Qualquer pessoa pode ser vítima de um mal, mas não necessariamente ela coloca nesta condição todo o peso de sua existência. Esta postura afasta as pessoas de seu livre arbítrio.

Essa ideia é um dos pontos principais que Viktor Frankl quer apresentar em seu livro. No Campo de Concentração é óbvio que as pessoas são grandes vítimas, mas isto não significa que toda a sua existência esteja focada nesta condição. As pessoas não abrem mão de viver, de escolher livremente, e esta escolha aparece para os demais.

A cada dia, todo ser humano é capaz de fazer escolhas morais, é capaz de escolher como tratar às pessoas ao seu redor. Por mais que os meios de ação estejam controlados, que a própria vida esteja sob controle e em risco, para Frankl nada pode roubar o livre arbítrio de uma pessoa.

É este livre arbítrio que permite à pessoa a possibilidade de fazer escolhas morais acertadas, escolhas mais elevadas e que, consequentemente, permitem o engrandecimento pessoal.

É muito interessante essa ideia na Logoterapia. Essa ideia aparece também em outro livro do Frankl que eu recomendo: “Psicoterapia e Sentido da Vida”. O autor apresenta essa visão de que as pessoas hoje estão muito imersas nos ciclos de prazer e vícios, portanto têm pouca tolerância ao sofrimento, são incapazes de abraçar qualquer dificuldade.

Outro problema que Frankl apresenta é que as pessoas dão ênfase exagerada e neurótica aos problemas que aparecem em suas vidas. Ele defende que as pessoas devem fugir dessa ênfase exagerada em determinados problemas. Isto é um problema terapêutico que ele enfrentou como psicólogo.

Para fugir desse ciclo de vícios, Frankl propõe às pessoas olharem para suas próprias vidas e pensarem “o que só eu posso fazer na situação em que estou?”.

A situação pode ser muito ruim, pode ser terrível, mas existe algum bem que “só eu posso fazer neste caso”.

Esta mentalidade estava presente nos Campos de Concentração. Frankl testemunhou pessoas que agiam com esta mentalidade face à pior experiência humana possível. Pessoas capazes de transcender as dificuldades do momento e focaram no dever, naquele bem que somente elas poderiam fazer naquele momento.

Pessoas passando fome, mas que entregavam a pouca comida que tinham para ajudar outras pessoas. O sacrifício, quando ele é abraçado, é um caminho para esse sentido da vida.

Não é só a dor pela dor, mas é a transformação do sofrimento na possibilidade de ajudar as outras pessoas ao seu redor, para assim ter uma vida mais plena. O sacrifício diário é uma ótima forja para se conquistar essa disposição.

Eu recomendo que leiam esse livro Em Busca do Sentido da Vida, é um livro maravilhoso. Frankl conta toda sua trajetória, de forma bem biográfica. Ele oferece muitas luzes para nossas vidas, sobre como nós podemos buscar mais sentido nas nossas vidas, para assim buscar vidas mais plenas.

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