Os últimos resultados de pesquisas eleitorais para as eleições de 2022 foram divulgados no sábado, dia 01/10, à véspera das eleições no domingo. Algumas pesquisas apontavam a vitória de Lula (PT) no primeiro turno. Quando as urnas foram apuradas constatou-se diferenças de até 16 pontos percentuais em comparação com várias pesquisas.
Os principais institutos que divulgaram resultados eleitorais à véspera das eleições foram: Ipec (antigo Ibope), Datafolha e Genial/Quaest. Quase todos mostravam a vitória de Lula no primeiro turno, com larga margem de votos:
Com 100% das urnas apuradas, o resultado foi: Lula (PT) com 48,4% e Bolsonaro (PL) com 43,2%.
O Ipec, antigo Ibope, foi o instituto que apresentou uma projeção de resultado mais expressiva para o candidato do PT, a qual não se confirmou. Veja as projeções que esta pesquisa fez por estado:
Este dado não vem sendo discutido pela mídia tradicional, mas o Ipec apontou resultados por estado que foram discrepantes com a realidade das urnas:
Os erros das pesquisas não se restringiram à disputa presidencial.
Nas pesquisas para o Senado e para o governo do Estado de São Paulo, os resultados das urnas contrariam a pesquisa do Ipec publicada no sábado, um dia antes das eleições:
No Rio Grande do Sul, as disputas do governo do estado e do senado também evidenciaram erros nas pesquisas eleitorais:
No estado do Paraná, o caso mais grave, a pesquisa do Ipec apresentou o seguinte resultado para a disputa pelo Senado: Álvaro Dias (Podemos) com 41%, Sérgio Moro (União Brasil) 35% e Paulo Martins (PL) 14%.
O Ipec errou os resultados, Álvaro ficou em terceiro lugar nas votações:
Paulo Martins criticou as pesquisas em suas redes sociais, mostrando como elas podem ter manipulado o resultado das eleições:
No Espírito Santo, a disputa pelo Senado também ficou marcada por erros na pesquisa do Ipec. A pesquisa apontava Rose de Freitas (MDB) com 44% e Magno Malta (PL) com 37%.
Nas urnas, Malta foi eleito com 41,95% dos votos contra 38,17% de Freitas.
No Rio Grande do Norte, o cenário de erros se repete na disputa pelo Senado. O Ipec apontou em sua pesquisa: Carlos Eduardo (PDT) com 40%, contra 29% de Rogério Marinho (PL). Marinho foi eleito com 41,85% dos votos contra 33,40% de Carlos Eduardo.
O Mato Grosso do Sul é um dos casos mais emblemáticos de erros nas pesquisas eleitorais. Capitão Contar do PRTB, aparecia em quarto lugar na pesquisa do Ipec. As previsões para o governo desse estado foram:
O resultado das urnas levou a um segundo turno: Capitão Contar liderou os votos com 26,71% seguido de Riedel com 25,16%.
Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, segue um resumo aproximado de como são feitas algumas pesquisas:
Esses pontos não excluem intervenções arbitrárias em pesquisas. O cenário ideal considera fidelidade aos resultados e à pesquisa em si. Atualmente, as pesquisas levantam dúvidas quanto a sua confiabilidade e metodologia.
Um dos pontos que levantam um sinal de alerta para analistas políticos hoje envolve os perfis das amostragens das pesquisas. Informações como: renda salarial, idade, sexo e religião são levadas em conta nas pesquisas.
Os institutos de pesquisa têm usado critérios diferentes para definir o perfil dos entrevistados.
Na pesquisa do Ipec, 57% da população recebe de 0 a 2 salários mínimos. Enquanto na da Quaest, o número cai para 38%. Nenhum dos valores conversa com o último censo do IBGE, em 2010.
Os dados que estipulam os perfis das amostragens não conversam entre si. Alguns institutos usam o censo de 2010 de referência, outros usam dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2021 e há casos em que nenhum desses bancos de dados são utilizados.
Um dos grupos com os votos mais disputados nessas eleições são os evangélicos. Em algumas pesquisas, eles são considerados 25% da população, enquanto outras colocam como 31% ou até 36%.
A imprecisão dos dados aumenta a desconfiança nos resultados.
Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira.
Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.
A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias. Até que ponto as pesquisas não servem como as esquadrias e batentes de uma janela?
As etapas de uma ideia na Janela de Overton são:
O conceito foi criado por Joseph P. Overton, para analisar fenômenos de segurança pública. Sua ideia pode ser aplicada a múltiplos cenários sociais.
As pesquisas podem criar a aceitação de cenários que parecem improváveis.
O Brasil conta com uma população de cerca de 215 milhões de habitantes, conforme o censo do IBGE de 2022. Em todo o Brasil, são 5.568 municípios. Enquanto as amostragens contemplam no máximo 3000 pessoas e 200 municípios.
O jornalista Cláudio Dantas do jornal O Antagonista, apurando diferentes resultados de pesquisa, questionou: “qual é a justificativa técnica para essa diferença?”, Dantas vai além: “isso aí virou uma ferramenta eleitoral, de manipulação da opinião pública”.
As pesquisas determinam os rumos das campanhas eleitorais, da opinião compartilhada nos meios de comunicação, tudo isto interfere nos rumos das eleições.
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